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José Monir Nasser foi o pai intelectual de centenas de pessoas.

*José Monir Nasser foi o pai intelectual de empresários, estudantes, professores, economistas, profissionais liberais, presidentes de entidades, jornalistas. Todos se tornavam alunos diante dele. Era um educador no sentido verdadeiro da palavra, se pensarmos que a palavra educar vem do latim ex ducare, conduzir para fora. Suas aulas sobre literatura, filosofia e desenvolvimento econômico literalmente conduziam os ouvintes para fora da caverna da ignorância, mostrando-lhes a luz pura e espiritual do conhecimento. Luz que emanava dos grandes clássicos: Aristóteles, Platão, a Bíblia, Santo Agostinho, Boécio, Dante, Shakespeare, Dostoievski, Kafka, Chesterton. Virgílio de tantos pequenos Dantes, que antes de conhecê-lo não conheciam a comédia das próprias vidas, ele comprovou que o mundo da criação literária e o mundo da criação de riquezas não estão separados, mas fazem parte de um mesmo princípio, essencialmente espiritual. Uma de suas frases – e ele era um frasista genial – ilustra esse pensamento:
“Uma sociedade não pode ser rica antes de ser inteligente. Não pode existir uma economia realmente sólida e desenvolvida sem que haja uma elite cultural voltada para os bens espirituais, capaz de guiar, julgar e interpretar os esforços da comunidade”.

José Monir Nasser costumava dizer que nós não explicamos os clássicos; eles é que nos explicam. Da mesma forma, podemos afirmar que qualquer tentativa de explicar o trabalho do professor Monir resultará em fracasso, pois toda explicação possível advém do próprio trabalho. É preciso dizer de uma vez por todas: ele é o professor e nós somos os alunos. Aristóteles discordou de seu mestre Platão em muitas coisas, mas certa vez declarou: “Platão é tão grande que o homem mau não tem sequer o direito de elogiá-lo”. Quem somos nós para elogiar ou explicar o mestre Monir? Ninguém. No entanto, estamos aqui, porque é nosso dever homenageá-lo.
Os textos reunidos na série Expedições pelo Mundo da Cultura são transcrições de aulas de José Monir Nasser sobre clássicos da literatura universal, dentro do programa Expedições pelo Mundo da Cultura, que funcionou entre 2006 e 2010. O objetivo era trazer para o conhecimento do público os temas que ocupavam o espírito dos grandes autores.

São nomes e histórias que muitas vezes estão presentes na vida e na linguagem cotidiana – vide os adjetivos homérico, dantesco, quixotesco, kafkiano –, mas que em geral ficam adormecidos na poeira das estantes. A missão de Monir era trazer esses enredos e personagens clássicos para a luz do dia. Nomes não existem por acaso. José Monir Nasser tinha o nome de dois importantes personagens bíblicos. José, o interpretador de sonhos. E José, o marceneiro, o guardião, o pai adotivo de Jesus. O primeiro José se tornou o maior sábio de seu tempo. O segundo José é conhecido por não pronunciar uma só palavra em todo o Evangelho. O primeiro José era amigo das palavras. O segundo José era amigo do silêncio. Mas ambos tinham algo em comum: eles fizeram o que precisava ser feito.
E o nosso José, o José Monir Nasser, também pertencia a essa casta. Ele fez o que precisava ser feito: espalhou as sementes do conhecimento, da educação e dos valores eternos. O sentido da sua vida era fazer o bem e elevar o espírito de seus semelhantes. E já que começamos homenageando Camões, terminemos citando um dos sonetos camonianos preferidos do professor Monir. A exemplo do pastor bíblico, o nosso mestre não media esforços para servir.

E não se desanimava nunca: "Vendo o triste pastor que com enganos Lhe fora assim negada a sua pastora, Como se a não tivera merecida, Começa de servir outros sete anos, Dizendo: — Mais servira, se não fora Para tão longo amor tão curta a vida!" É bom lembrar que Jacó – que trabalhou 14 anos para se casar com Raquel – foi o pai do primeiro José, o intérprete de sonhos. Uma só existência é pequena para tudo que um homem pode realizar. Por isso, nós estamos aqui para celebrar José. Monir. Nasser. Tão longo amor, tão curta vida de quem nunca pensou ser pai de tantos filhos.

* Paulo Briguet site original clique aqui  

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